sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

POESIA - LALO ARIAS

Fotomontagem de Thomas Barbey






VERÃO, 2015

não
ontem não choveu
anteontem sim
um vendaval moeu as ruas
só ficaram as folhas
espalhadas no quintal
depois cozinhei um pouco
a coisa de sempre
pura invenção
improviso
quase bailando na beira do fogão
escrevi o que pude
mas poderia ter sido mais
sempre mais
como disse ainda anteontem
antes da chuva
daquele vendaval
que assombrou lençóis
no varal
também me repeti
até a exaustão
ando cansado
de repetições
dia após dias
repetindo
repetindo
os mesmos minutos
dormi pouco
dormi muito
mais pesadelos
do que realidade
sonhos não tive
pra onde vou não é preciso sonhar
também lembrei
que corri muito a vida inteira
tem horas que até o herói
desaba
imagine eu então
poeta envelhecido
esquecendo palavras pelos cantos
ontem
procurei ordenar as contas
não deu certo
então resolvi vender
o que não cabe na mochila
um relógio
pra onde vou basta olhar pro céu
mesmo sob chuva
duas bicicletas
pra onde vou as estradas
sobem
só sobem
uma coleção de revistas
coisa rara
pra onde vou não lerei revistas
agora vou cozinhar
depois coar um café
quem sabe o último cigarro
e por fim
farei o inventário de doações

(janeiro, 2015)

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